Independentismo na Catalunha
BPI na rota do furacão da independência da Catalunha
O CaixaBank recusa clarificar se já entregou aos reguladores planos de contingência para sobreviver em cenários extremos a partir do referendo de domingo. E que podem afectar o sexto maior banco a operar em Portugal.
Cristina Ferreira
29 de Setembro de 2017, 6:30
Pablo Forero assumiu a liderança do BPI depois de o grupo catalão ter adquirido o domínio da instituição financeira portuguesa Paulo Pimenta
As incógnitas que se abriram nos últimos dias com a decisão das autoridades da Catalunha de colocarem a referendo a sua independência de Espanha, contrariando Madrid, estão a levar os analistas e as casas de investimento a desdobrarem-se em alertas sobre a iniciativa. Sob pressão do risco político e económico, caso a situação se descontrole, ficará o CaixaBank, o activo mais relevante da Catalunha e o maior banco de retalho de Espanha, e dono do BPI, cuja liquidez é gerida em articulação com a do banco catalão.
Faltam apenas três dias para o governo regional da Catalunha liderado por Carles Puigdemon avançar com a consulta popular para referendar a independência, isto a confirmar-se a realização da iniciativa no próximo domingo. E, à medida que o dia 1 de Outubro se aproxima, sucedem-se os incidentes entre as forças soberanistas e o executivo de Mariano Rajoy (que reitera a decisão de travar o acto), o que aumenta o risco político e acentua a incerteza em torno do futuro da Catalunha. Trata-se de uma das regiões mais ricas de Espanha: representa 19% do PIB espanhol e os catalães são 16% da população total.
“As próximas horas e dias vão ser muito duros na Catalunha”
Ontem o El País avançava que estavam a chegar aos escritórios de advogados pedidos de informações de teor financeiro e jurídico sobre o processo e que há “empresas que optaram mesmo por congelar investimentos”. Aos receios dos investidores gerados pelo conflito na Catalunha juntam-se as dúvidas surgidas em resultado das eleições alemãs e quanto ao desfecho do diferendo entre os EUA e a Coreia do Norte.
Esse ambiente contribuiu para que a semana começasse negra para muitas empresas espanholas cotadas no índice bolsista Ibex. O destaque foi para as financeiras sensíveis a cenários políticos e económicos difíceis. Na última segunda-feira, o CaixaBank, dono do BPI, foi particularmente castigado, com a cotação a dar um tombo de 3,79%. Foi até mais acentuado que o dos outros bancos cotados na Bolsa de Madrid: o BBVA caiu 1,88%, o Santander 1,16%. Mesmo o catalão Sabadell foi menos penalizado, 1,13 %. Apesar de ter iniciado a semana com perdas, o CaixaBank resistiu nas últimas sessões, mas ontem já estava a negociar no vermelho.
O PÚBLICO inquiriu o CaixaBank para saber se já se dotou de planos de contingência e se estes contemplam medidas de apoio ao BPI; se os entregou aos reguladores e se o banco admite mudar a sua sede de Barcelona para outra região de Espanha. Às questões de natureza regulatória e estratégica o CaixaBank respondeu: “O CaixaBank não comenta temas políticos.”
Secessão do CaixaBank?
O que é que se passa na Europa e em Portugal face à Catalunha?
Quem excluiu imediatamente a hipótese de deslocalização do CaixaBank para fora da Catalunha, em caso de secessão, foi Adrià Alsina, “por não ter lógica”. O porta-voz da Assembleia Nacional da Catalunha, que prestou declarações ao PÚBLICO na qualidade de professor universitário e de activista do movimento independentista, defende que, “havendo dois Estados, o espanhol e o catalão, nada mudará para o CaixaBank”, que “manterá a licença bancária para operar no resto de Espanha, mas passará a responder perante o banco central da Catalunha” e o Banco Central Europeu. E concretizou: “A situação é contrária à do Santander, que manterá a sede em Espanha, mas terá licença bancária para trabalhar na Catalunha.”
Na perspectiva deste académico, se “a votação de domingo” apontar para o sim à separação de Espanha, os passos seguintes serão os previsíveis e “não levantam problemas”: a Catalunha iniciará um período de negociação com a Espanha e a União Europeia (UE). E não se antecipa, “por não ser do interesse de nenhuma das partes”, que se ergam fronteiras físicas entre “dois Estados diferentes” que integram o mesmo espaço europeu. “Não é do interesse de nenhuma parte que a Catalunha deixe a União Europeia”, refere.
No entanto, para aderir à UE, a Catalunha não poder ter a oposição de nenhum Estado-membro, ou seja, a Espanha terá de estar de acordo — o que não se antecipa, em ambiente de confronto. Há outro obstáculo: o tratado da UE não prevê que um país se possa cindir de outro já na UE sem que isso ocorra dentro da Constituição nacional.
A visão dos investidores
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Standard & Poor’s sobe rating do BPI e Santander Totta
Com a pressão a aumentar, e o risco político a acentuar-se, os analistas e investidores institucionais desataram a emitir opiniões. Na sua edição de ontem, o El País referia que o Bank of America Merrill Lynch, o ING, a agência Moody’s, o JP Morgan e o Goldman Sachs muniram-se de relatórios sobre a situação catalã. E “se a maioria considera remota a hipótese de secessão”, os analistas “da Merrill Lynch, do Oxford Economics e da Goldman Sachs antecipam “uma escalada de tensões políticas” que são um obstáculo a um final feliz.
E algumas das observações colocam no centro o CaixaBank. A 18 de Setembro, o jornal económico Expansión salientava que as incertezas geradas pelo braço-de-ferro entre Barcelona e Madrid levaram a uma onda de recomendações “sem precedentes” de afastamento do título CaixaBank, com a Redburn e a Goldman Sachs a avisarem que “a entidade financeira catalã deixou de ser uma opção de compra”.
Ainda assim o Expansión observava que nos últimos três meses os analistas reavaliaram positivamente o CaixaBank, o que levou a uma subida do preço médio em mais de 4%. Só que “agora estão a tomar precauções”, por medo das perturbações que se podem desencadear a partir de segunda-feira. E sublinhava que a entidade catalã mantinha a melhor evolução anual do Ibex 35, com uma subida de 38%. Ontem a cotação caiu apenas 1,5%.
Esta situação abre a porta a várias interpretações: os investidores não estão preocupados com a eventual secessão da Catalunha de Espanha, pois sabem que o CaixaBank como principal activo da região será protegido; os investidores não acreditam nesta possibilidade, e já descontaram que não vai haver independência; os investidores andaram distraídos. E é esta última perspectiva que é partilhada pelo JP Morgan, um dos bancos que vieram a público tomar posição.
Esta terça-feira, em comunicado emitido através da agência Bloomberg, o banco norte-americano destaca que “a crise constitucional que atinge Espanha, pelo separatismo catalão, está a ser analisada com complacência pelos investidores”. E considera mesmo que os investidores “ainda não interiorizaram” os riscos associados a uma vitória do sim no referendo.
Por isso, o JP Morgan aconselha os clientes a “venderem dívida pública espanhola e a comprarem obrigações [do Tesouro] de Portugal e da Alemanha e adoptarem posições curtas”. Com um aviso: “Devem fazê-lo assim que possível.”
Dias antes, a agência de notação financeira Moody’s veio defender que a independência da Catalunha “debilitaria a fortaleza económica” de Espanha. E destacou o peso económico e demográfico da Catalunha, com um produto interno bruto per capita superior à média nacional, no conjunto do Espanha. A Moody’s admite que a crescente deterioração da situação política poderá acabar na reavaliação em baixa de risco de crédito da Catalunha e de Espanha.
Os 50 milhões da Fundação em Portugal
O CaixaBank é detido em 40% pela holding Criteria Caixa que, por sua vez, é controlada a 100% pela Fundação Bancária La Caixa. Uma entidade que, no último ano, ganhou visibilidade em Portugal. E não foi só pelo facto de o seu braço financeiro ter assumido o controlo da gestão do BPI. É que a Fundação também anunciou que ia disponibilizar 50 milhões de euros para obras sociais a implementar em Portugal. Na mesma altura, os media espanhóis anunciaram que Cristina Bourbón, irmã do rei de Espanha, se ia mudar para Portugal com vencimento pago pela Fundação catalã. Oficialmente Cristina Bourbon trabalha para a Fundação Bancária La Caixa, na coordenação da actividade cultural, recebendo anualmente 300 mil euros.
https://www.publico.pt/2017/09/29/e...furacao-da-independencia-da-catalunha-1787045
BPI na rota do furacão da independência da Catalunha
O CaixaBank recusa clarificar se já entregou aos reguladores planos de contingência para sobreviver em cenários extremos a partir do referendo de domingo. E que podem afectar o sexto maior banco a operar em Portugal.
Cristina Ferreira
29 de Setembro de 2017, 6:30
Pablo Forero assumiu a liderança do BPI depois de o grupo catalão ter adquirido o domínio da instituição financeira portuguesa Paulo Pimenta
As incógnitas que se abriram nos últimos dias com a decisão das autoridades da Catalunha de colocarem a referendo a sua independência de Espanha, contrariando Madrid, estão a levar os analistas e as casas de investimento a desdobrarem-se em alertas sobre a iniciativa. Sob pressão do risco político e económico, caso a situação se descontrole, ficará o CaixaBank, o activo mais relevante da Catalunha e o maior banco de retalho de Espanha, e dono do BPI, cuja liquidez é gerida em articulação com a do banco catalão.
Faltam apenas três dias para o governo regional da Catalunha liderado por Carles Puigdemon avançar com a consulta popular para referendar a independência, isto a confirmar-se a realização da iniciativa no próximo domingo. E, à medida que o dia 1 de Outubro se aproxima, sucedem-se os incidentes entre as forças soberanistas e o executivo de Mariano Rajoy (que reitera a decisão de travar o acto), o que aumenta o risco político e acentua a incerteza em torno do futuro da Catalunha. Trata-se de uma das regiões mais ricas de Espanha: representa 19% do PIB espanhol e os catalães são 16% da população total.
“As próximas horas e dias vão ser muito duros na Catalunha”
Ontem o El País avançava que estavam a chegar aos escritórios de advogados pedidos de informações de teor financeiro e jurídico sobre o processo e que há “empresas que optaram mesmo por congelar investimentos”. Aos receios dos investidores gerados pelo conflito na Catalunha juntam-se as dúvidas surgidas em resultado das eleições alemãs e quanto ao desfecho do diferendo entre os EUA e a Coreia do Norte.
Esse ambiente contribuiu para que a semana começasse negra para muitas empresas espanholas cotadas no índice bolsista Ibex. O destaque foi para as financeiras sensíveis a cenários políticos e económicos difíceis. Na última segunda-feira, o CaixaBank, dono do BPI, foi particularmente castigado, com a cotação a dar um tombo de 3,79%. Foi até mais acentuado que o dos outros bancos cotados na Bolsa de Madrid: o BBVA caiu 1,88%, o Santander 1,16%. Mesmo o catalão Sabadell foi menos penalizado, 1,13 %. Apesar de ter iniciado a semana com perdas, o CaixaBank resistiu nas últimas sessões, mas ontem já estava a negociar no vermelho.
O PÚBLICO inquiriu o CaixaBank para saber se já se dotou de planos de contingência e se estes contemplam medidas de apoio ao BPI; se os entregou aos reguladores e se o banco admite mudar a sua sede de Barcelona para outra região de Espanha. Às questões de natureza regulatória e estratégica o CaixaBank respondeu: “O CaixaBank não comenta temas políticos.”
Secessão do CaixaBank?
O que é que se passa na Europa e em Portugal face à Catalunha?
Quem excluiu imediatamente a hipótese de deslocalização do CaixaBank para fora da Catalunha, em caso de secessão, foi Adrià Alsina, “por não ter lógica”. O porta-voz da Assembleia Nacional da Catalunha, que prestou declarações ao PÚBLICO na qualidade de professor universitário e de activista do movimento independentista, defende que, “havendo dois Estados, o espanhol e o catalão, nada mudará para o CaixaBank”, que “manterá a licença bancária para operar no resto de Espanha, mas passará a responder perante o banco central da Catalunha” e o Banco Central Europeu. E concretizou: “A situação é contrária à do Santander, que manterá a sede em Espanha, mas terá licença bancária para trabalhar na Catalunha.”
Na perspectiva deste académico, se “a votação de domingo” apontar para o sim à separação de Espanha, os passos seguintes serão os previsíveis e “não levantam problemas”: a Catalunha iniciará um período de negociação com a Espanha e a União Europeia (UE). E não se antecipa, “por não ser do interesse de nenhuma das partes”, que se ergam fronteiras físicas entre “dois Estados diferentes” que integram o mesmo espaço europeu. “Não é do interesse de nenhuma parte que a Catalunha deixe a União Europeia”, refere.
No entanto, para aderir à UE, a Catalunha não poder ter a oposição de nenhum Estado-membro, ou seja, a Espanha terá de estar de acordo — o que não se antecipa, em ambiente de confronto. Há outro obstáculo: o tratado da UE não prevê que um país se possa cindir de outro já na UE sem que isso ocorra dentro da Constituição nacional.
A visão dos investidores
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Com a pressão a aumentar, e o risco político a acentuar-se, os analistas e investidores institucionais desataram a emitir opiniões. Na sua edição de ontem, o El País referia que o Bank of America Merrill Lynch, o ING, a agência Moody’s, o JP Morgan e o Goldman Sachs muniram-se de relatórios sobre a situação catalã. E “se a maioria considera remota a hipótese de secessão”, os analistas “da Merrill Lynch, do Oxford Economics e da Goldman Sachs antecipam “uma escalada de tensões políticas” que são um obstáculo a um final feliz.
E algumas das observações colocam no centro o CaixaBank. A 18 de Setembro, o jornal económico Expansión salientava que as incertezas geradas pelo braço-de-ferro entre Barcelona e Madrid levaram a uma onda de recomendações “sem precedentes” de afastamento do título CaixaBank, com a Redburn e a Goldman Sachs a avisarem que “a entidade financeira catalã deixou de ser uma opção de compra”.
Ainda assim o Expansión observava que nos últimos três meses os analistas reavaliaram positivamente o CaixaBank, o que levou a uma subida do preço médio em mais de 4%. Só que “agora estão a tomar precauções”, por medo das perturbações que se podem desencadear a partir de segunda-feira. E sublinhava que a entidade catalã mantinha a melhor evolução anual do Ibex 35, com uma subida de 38%. Ontem a cotação caiu apenas 1,5%.
Esta situação abre a porta a várias interpretações: os investidores não estão preocupados com a eventual secessão da Catalunha de Espanha, pois sabem que o CaixaBank como principal activo da região será protegido; os investidores não acreditam nesta possibilidade, e já descontaram que não vai haver independência; os investidores andaram distraídos. E é esta última perspectiva que é partilhada pelo JP Morgan, um dos bancos que vieram a público tomar posição.
Esta terça-feira, em comunicado emitido através da agência Bloomberg, o banco norte-americano destaca que “a crise constitucional que atinge Espanha, pelo separatismo catalão, está a ser analisada com complacência pelos investidores”. E considera mesmo que os investidores “ainda não interiorizaram” os riscos associados a uma vitória do sim no referendo.
Por isso, o JP Morgan aconselha os clientes a “venderem dívida pública espanhola e a comprarem obrigações [do Tesouro] de Portugal e da Alemanha e adoptarem posições curtas”. Com um aviso: “Devem fazê-lo assim que possível.”
Dias antes, a agência de notação financeira Moody’s veio defender que a independência da Catalunha “debilitaria a fortaleza económica” de Espanha. E destacou o peso económico e demográfico da Catalunha, com um produto interno bruto per capita superior à média nacional, no conjunto do Espanha. A Moody’s admite que a crescente deterioração da situação política poderá acabar na reavaliação em baixa de risco de crédito da Catalunha e de Espanha.
Os 50 milhões da Fundação em Portugal
O CaixaBank é detido em 40% pela holding Criteria Caixa que, por sua vez, é controlada a 100% pela Fundação Bancária La Caixa. Uma entidade que, no último ano, ganhou visibilidade em Portugal. E não foi só pelo facto de o seu braço financeiro ter assumido o controlo da gestão do BPI. É que a Fundação também anunciou que ia disponibilizar 50 milhões de euros para obras sociais a implementar em Portugal. Na mesma altura, os media espanhóis anunciaram que Cristina Bourbón, irmã do rei de Espanha, se ia mudar para Portugal com vencimento pago pela Fundação catalã. Oficialmente Cristina Bourbon trabalha para a Fundação Bancária La Caixa, na coordenação da actividade cultural, recebendo anualmente 300 mil euros.
https://www.publico.pt/2017/09/29/e...furacao-da-independencia-da-catalunha-1787045